domingo, 24 de janeiro de 2016




Revista promove debate sobre adolescência e saúde coletiva


Revista Ciência & Saúde Coletiva

http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/38730

Organizada pelas pesquisadoras da ENSP, Simone Gonçalves Assis e Joviana Quintas Avanci, e Cristiane S. Duarte, da Colúmbia University, a edição de novembro de 2015 (vol. 20 n. 11), da Revista Ciência & Saúde Coletiva, foca especificamente nos dilemas da saúde do adolescente: questões associadas ao desenvolvimento físico através da alimentação e dos cuidados com a saúde oral; presença de problemas mentais como depressão, decorrentes do bullying e de outras formas de violência; e a temática da desigualdade social que permeia a qualidade de vida. O tema da sexualidade, em especial da masculinidade, também está presente. De todos os adolescentes brasileiros (45 milhões entre 10 a 19 anos), os mais frágeis estão na Região Nordeste, onde a pobreza e os dados de frequência escolar desnudam a desigualdade social e de oportunidades.

Segundo o editorial da Revista, é comum se encontrarem referências à população adolescente como aquela que menos adoece ou menos procura os serviços de saúde. Contudo, hoje, os adolescentes entre 15-19 anos engrossam as estatísticas brasileiras de violência, apresentando elevadas taxas de mortes. Além disso, o uso abusivo de drogas, a vivência na rua, a exploração do trabalho, a vida escolar deficiente para a profissionalização futura, as doenças sexualmente transmissíveis e as gestações não planejadas são temas de extremo interesse para o país. Aproximadamente 11% das internações hospitalares no Brasil são de jovens nessa faixa etária, em especial por duas causas: gravidez precoce e acidentes e violências.

Pelo menos três entraves estão presentes na abordagem dos adolescentes no cotidiano dos servi­ços de saúde, de acordo com as pesquisadoras: o precário acesso ao atendimento público; a dificuldade dos profissionais em lidar com assuntos polêmicos, como questões ligadas à sexualidade; e a falta de reconhecimento dos profissionais de saúde de que também é sua a tarefa de formação dos jovens como cidadãos.

Estado nutricional e distribuição de gordura corporal em crianças e adolescentes com Fibrose Cística, artigo de autoria de Célia Regina Moutinho de Miranda Chaves, Ana Lúcia Pereira da Cunha, Roseli de Souza Santos da Costa, Speranza Vieira Lacerda, do Instituto Fernandes Figueira; e  Ana Carolina da Costa, da ENSP, avalia a distribuição de gordura corporal por meio da absorciometria de duplo feixe de energia, do estado nutricional por estatura/idade e índice de massa corporal/idade e a ingestão dietética pelo recordatório alimentar de 24 horas, em 56 pacientes com idade entre 8 e 18 anos. Aproximadamente 50% da amostra apresentou estado nutricional adequado. A maioria apresentou a ingestão calórica e de lipídios inadequada. O artigo indica que pacientes com fibrose cística devem associar a avaliação antropométrica à composição corporal e à distribuição de gordura corporal para um diagnóstico mais precoce de desnutrição e fatores de risco cardiometabólico.

No artigo Entre evidências e negligências: cobertura e invisibilidade de temas de saúde na mídia impressa portuguesa, os pesquisadores Aline Guio Cavaca, Paulo Roberto Vasconcellos-Silva, da ENSP, Patrícia Ferreira, João Arriscado Nunes, da Universidade de Coimbra, Portugal, analisam a divulgação midiática da saúde em Portugal a fim de problematizar as questões da cobertura e invisibilidade dos temas de saúde, as quais apontariam temas midiaticamente negligenciados. Para tanto, foram comparadas a cobertura de saúde do Jornal Público com o contexto epidemiológico sobre as prioridades de saúde e as percepções dos atores-chave acerca da divulgação midiática e dos temas relevantes à população portuguesa. Evidenciou-se, nos resultados, que os temas ligados à saúde mais recorrentes na mídia portuguesa não se referem às doenças propriamente ditas, mas às políticas e à economia da saúde e medicamentos. Foram identificados como temas midiaticamente negligenciados no contexto lusitano as doenças transmissíveis, como as hepatites e a tuberculose; questões relacionadas à saúde mental e ao suicídio; as enfermidades e consequências sociais da crise econômica que assola o país e, a partir da percepção dos comunicadores entrevistados, as doenças negligenciadas, a hemocromatose e demais doenças raras.

Confira na íntegra a edição de novembro de 2015 (vol. 20 n. 11) da Revista Ciência & Saúde Coletiva.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Alunos do Estágio 1 relatam suas experiências e percepções sobre o campo do ensino-serviço


USF – Guarulhos Jardim – São Paulo


A Unidade de Saúde da Família (USF) Guarulhos de Jardim São Paulo é responsável por atender cerca de 7.000 famílias. É dividida em 6 micro áreas; cada uma delas acompanhada por um Agente Comunitário de Saúde (ACS). A população atendida na USF é predominantemente de baixa renda (trabalhadores informais, domésticas, aposentados e dependentes do Programa Bolsa Família). Dessa forma, a presença dessa UFS promove um diferencial significativo à saúde e qualidade de vida da comunidade assistida. Na USF há atendimento clínico, odontológico, bem como o acompanhamento das condições de saúde das famílias cadastradas. São realizados trabalhos de orientação sobre as principais doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, hipertensão); as famílias são incentivadas a realizarem vacinação, exames de rotina (exame preventivo para as mulheres, exames de mama). A USF está localizada estrategicamente de modo a facilitar o acesso da maioria dos usuários. Quanto à saúde bucal, há materiais e equipamentos modernos, que possibilitaria o atendimento das principais demandas. Todavia, houve um problema na construção da unidade, causando um refluxo na tubulação que supre o equipamento odontológico. Isto inviabiliza grande parte dos atendimentos. Contudo, as cirurgiãs dentistas responsáveis atendem aos pacientes, os orientam quanto à saúde bucal e, quando necessário, os encaminham para outros locais onde eles possam ser atendidos. De maneira geral, os usuários aprovam o trabalho realizado pelas cirurgiãs dentistas; e sentem-se acolhidos e satisfeitos, apesar do inconveniente relatado acima. É possível perceber a importância que o SUS, através dessa USF, representa à comunidade. Sem essa USF, a maior parte dessas 7.000 famílias não teria acesso inclusive a informações sobre saúde e orientações sobre os locais nos quais podem procurar atendimento em casos de doença. O fato da existência de visitas domiciliares na comunidade pelos ACSs, também merece destaque. As próprias famílias mencionam que se sentem importantes com esse trabalho e expressam que mesmo se tivessem condições de pagar por um plano de saúde, não seriam tratados dessa maneira. Existem dificuldades na prática do Programa de Saúde da Família, mas os benefícios são indiscutivelmente numerosos para a população.

 por Ângela Amâncio dos Santos 


DISTRITO IV- USF EMOCYR KRAUSE

A unidade de saúde da família é o principal modelo de organização da atenção primária à saúde no Brasil. Sua presença é fundamental na comunidade pois, a da sua equipe multiprofissional, pode-se identificar inicial e primordialmente as fragilidades  de acesso ao sistema de saúde que acometem os moradores de uma dada região. A área da saúde ainda sofre bastante com falta de estrutura governamental, porém é pautada num modelo que promove assistência básica à saúde da população apesar das falhas e dificuldades. Ao vivenciar a USF, pude adquirir experiências positivas e negativas. Para começar, vamos as experiências positivas. O serviço é oferecido por profissionais (médicos, odontologistas, farmacêuticos,  enfermeiros) bem treinados e capacitados, apesar do número reduzido de profissionais.Não há custos com medicamentos (todos fornecidos pelo governo) e nem com as consultas. Outro ponto positivo é o processo de humanização do estudante de saúde que, ao ser inserido na convivência com o sistema e a população, consegue ampliar sua visão sobre a importância da existência desse serviço. Agora, vamos as experiências negativas. Nesse aspecto pude notar o excesso de pacientes para um número reduzido de médicos, frequente falta de determinados medicamentos na farmácia da população, necessidade de aparelhos para exames,infra-estrutura das instalações deficiente, mal atendimento (causado justamente pelo número reduzido de profissionais), filas enormes e demora no atendimento. Ainda destaco adificuldade no manejo dos recursos referentes a manutenção, esporádico atraso dos funcionários e pouca divulgação das atividades oferecidas pela  USF para a população. Sabe-se que a USF, apesar de algumas vezes não ir de encontro com todos os seus objetivos propostos no papel, apresenta profissionais e população usuária almejando sempre uma mudança para melhor. 

por GEORGYA MAYARA TRAVASSO TORRES ALVES


USF Jardim Teresópolis

A disciplina de Estágio Curricular no Sistema Público de Saúde 1 é o primeiro contato dos alunos com o SUS enquanto não usuários. A unidade de saúde onde foram realizadas as atividades do estágio pertence ao Distrito V, localizada na comunidade de Mangueira II.
Acredito que o primeiro contato nos fornece conhecer a realidade. É muito comum ouvirmos usuários reclamarem dos serviços públicos de saúde, e agora pudemos ouvir os pontos de vista e insatisfações dos profissionais e gestores. A Unidade de Saúde de Mangueira II tem a estrutura física de uma casa que foi adaptada, o que traz dificuldades.São difíceis as condições físicas de trabalho que são impostas aos profissionais e usuários.
Lamentavelmente, devido a problemas na cadeira odontológica, a unidade ficou dois anos sem oferecer os serviços de odontologia a população. Portanto, a demanda atual é considerável. Em nossa primeira visita ao campo com a ACS Ruteh - uma pessoa que tornou o estágio muito produtivo e que nos aproximou da realidade verdadeira das famílias usuárias da UFS - pudemos verificar as consequências de dois anos sem serviços odontológicos na comunidade. Durante nosso percurso diversas pessoas indagaram sobre atendimento odontológico à ACS.
Entretanto, apesar das dificuldades, é possível também ver a vontade dos profissionais de fazer um bom trabalho, de cumprir com sua obrigação na tentativa de promover saúde à população. O estágio é um espaço de diálogo e contato com a realidade, usuários e profissionais. É uma etapa na construção acadêmica e profissional muito importante que nos coloca mais próximos do futuro profissional.

Por Elba Alves dos Santos
 
USF de Jiquiá
Na disciplina de Estágio Curricular 1 os alunos da UFPE passam por uma série de experiências que norteiam a Saúde Pública.  Elaé realizada nas Unidades de Saúde da Família (USF) que ficam distribuídas em regiões do Distrito IV e V, na região metropolitana do Recife. Esse conjunto de vivências permite explorar aspectos que por hora eram desconhecidos pela maioria dos estudantes.
Um relato dessas experiências pode ser dado por mim, Camila Victor, aluna de Estágio 1 do período 2015.2. Fiz meu estágio na USF de Jiquiá, que, como muitas outras USF, fica localizada em um bairro humilde.
Na vida acadêmica nos ensinam os melhores tratamentos, melhores recursos, melhores remédios para sermos os melhores profissionais que pudermos. Porém, quando nos deparamos com a realidade pública, nos damos conta de que não são os melhores recursos que vão fazer de nós ótimos profissionais, mas sim o quanto conseguimos compreender a realidade do nosso paciente e nos comprometer com ela, transformar essa realidade em uma demarcação de até onde podemos ir e assim planejar o melhor para ele.Afinal de contas, não adianta passar o melhor remédio se ele for o mais caro e o paciente não puder comprar.
O que de fato tornou essa experiência mais enriquecedora foi poder conhecer as bases do Sistema Único de Saúde, seus usuários e seus lares, formas de vida Tudo que caracteriza a Unidade, tanto social quanto estruturalmente.
Passamos toda uma graduação vivenciando e aprendendo o lado do profissional.Entretanto, conhecer o outro lado nos transforma não só em melhores profissionais, mas em melhores cidadãos. Essa experiência fez com que ampliássemos nossos olhares para saúde, saindo assim da bolha que envolve a odontologia, dando um caráter interdisciplinar na nossa formação. Essa sim foi a maior lição para mim. 

Por Camila Gabriela de Oliveira Victor















A saúde bucal nas comunidades indígenas

Os primeiros cuidados de saúde foram proporcionados aos grupos indígenas por missões religiosas, sendo apenas em 1967 que foi criada a primeira política indigenista instituída pelo Estado: SPI (Serviço de Proteção ao Índio).

A partir de 1967 a assistência à saúde destes povos passou para a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que atuou até 1999. Após este período, a Fundação Nacional de Saúde assumiu a responsabilidade pelos cuidados e atendimento aos povos indígenas, permanecendo até 2010, quando foi criada a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), que passa a coordenar e executar o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena em todo o território nacional. Mais recentemente, foi lançado o programa Brasil Sorridente Indígena, que tem como objetivos ampliar o acesso ao atendimento odontológico nas aldeias.
É necessário falar sobre isso. É necessário que o profissional adquira competência cultural, transcendendo os limites de um modelo assistencialista com foco no indivíduo, privilegiando a PROMOÇÃO AEM SAÚDE com o olhar voltado à coletividade, respeitando e valorizando os aspectos sociais e culturais dos povos indígenas.
Nos dias 22 a 26 de maio de 2016 vai acontecer em Curitiba a 22° Conferencia Mundial de Promoção da Saúde, que tem como pontos principais desorganização e falta de acesso a algumas populações vulneráveis e marginalizadas, como populações indígenas e comunidades ribeirinhas.
A conferência vai abordar a falta de equidade e o foco será o compartilhamento de estratégias e pesquisas. Isso abre um grande espaço para a reflexão sobre as práticas e políticas que promovam saúde e equidade em TODOS os níveis, respeitando os aspectos locais, históricos e culturais de cada povo.

Por Louise Luciane Silva Duarte 
Aluna do Estágio Curricular no Serviço Público de Saúde 1

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

André Monteiro e Lia Giraldo defendem o saneamento contra a microcefalia


OPINIÃO
"Manter as ações centradas no mosquito, conduzir uma narrativa de guerra com uso de arma química é não resolver o problema"

Por André Monteiro
Engenheiro de Saúde Pública, Pesquisador Fiocruz/PE
andremc@cpqam.fiocruz.br

Lia Giraldo da Silva Augusto
Médica Sanitarista, Professora da UPE, Pesquisadora do Programa de Pós Graduação em Saúde Pública da Fiocruz/PE
lgiraldo@uol.com.br

A microcefalia estoura como uma grande epidemia ao apagar das luzes de 2015. Uma tragédia sanitária de proporções ainda inimagináveis. Os casos em avaliação são, majoritariamente, de mães que vivem em áreas pobres, com condições precárias de urbanização e de acesso à água. Atinge aos pobres, já vulnerabilizados historicamente pela abissal desigualdade social brasileira.

Quais as ações de maior impacto para controle do Aedes aegypti tomadas pelas autoridades federal e estaduais? Soldados em guerra contra o Aedes. Com armas químicas. Na saúde pública, essas armas químicas remontam à II Guerra Mundial, quando os alemães e americanos, estruturaram seu parque químico e no pós-guerra precisavam dar vazão à essa capacidade instalada. A partir daí o controle dos vetores de endemias passa a ser feito, majoritariamente, com inseticidas. Nos últimos quase trinta anos o controle químico do Aedes tem sido a principal arma da saúde pública.

Terminologias de guerra, armas de guerra. Estamos em guerra? Qual o nosso inimigo mesmo? O Aedes? Ao centrar o discurso no mosquito, desloca-se o foco e se elege um inimigo. Essa é uma estratégia de comunicação. Pode ser eficaz para mobilizar agentes públicos e sociais por um tempo curto. Mas há décadas tem sido ineficaz. É necessário reconstruir a narrativa e reposicionar o objeto da ação, que deve ser os criadouros e não as larvas ou mosquitos adultos.
O controle químico do Aedes aegypti teve nos anos 1990, uma malfadada Campanha de Erradicação, conduzida pelo Ministério da Saúde, que sabemos onde deu. Esta estratégia tem sido inócua, perdulária com recursos públicos e envenenando a população. Parece que não sabem fazer outra coisa! A eliminação dos criadouros deve ser realizada com o saneamento ambiental, sobretudo com o abastecimento de água universal e regular, e coleta de resíduos sólidos, com drenagem urbana e com manutenção desses sistemas.

As questões técnico-políticas devem ser pautadas por uma ideia de humanidade, pois enfrentamos um problema em que o andar de baixo é mais afetado. Até quando podemos suportar o infortúnio que grupos sociais carregam das mazelas de nosso desenvolvimento? Será necessário que a classe média e alta sejam atingidas pela microcefalia?

Pernambuco e Recife têm o maior número de casos de microcefalia do Brasil e contam com problemas de abastecimento de água graves. A crise hídrica é um pano de fundo que não pode dissipar as questões da gestão dos serviços de abastecimento de água. Temos um índice de perdas de faturamento de 56%. Ou seja, perdemos 56 litros a cada 100 litros tratados. No Recife é próximo de 60%. Com isso os racionamentos persistem. E com a crise hídrica, muitas cidades estão com sistemas de abastecimento em colapso, o que provocou altos índices de infestação predial do Aedes no Sertão.

As áreas que ficam mais dias sem água são as de populações mais pobres, que não possuem cisternas nem caixa d’água elevada protegidas devidamente. E aqui outro viés social: quem é mais pobre, recebe menos água, pois os rodízios favorecem as classes média e alta. Armazenam, em geral, água em baldes, latas, tonéis, tanques sem vedação adequada. Cerca de 90% dos criadouros do Aedes são reservatórios domiciliares de água, decorrentes desse quadro crítico de rodízio. Uma tragédia brasileira anunciada.

E agora, decidem colocar larvicida na água de beber das pessoas de forma indiferenciada (crianças, gestantes, idosos, doentes crônicos), tirando-lhes o direito à água potável, e impondo-lhes um veneno, que nos artrópodes causa mal formação. Portanto tem efeito teratogênico.

Manter as ações centradas no mosquito, conduzir uma narrativa de guerra com uso de arma química é não resolver o problema. É dar uma falsa ideia de solução. A história nos aponta os erros. O pior é que esses gastos poderiam ter sido revertidos em saneamento. Ao se adicionar veneno em água potável, se está despotabilizando essa água, e o pior é que os padrões de potabilidade da água para consumo humano são definidos pelo Ministério da Saúde.

Sugerimos como estratégias de curto prazo: I) centrar o foco da ação na eliminação do criadouro. Não confundir criadouro com reservatório de água para abastecimento, este deve ser limpo e protegido; II) cessar o uso de larvicida nos reservatórios domiciliares, como ação precaucionária, evitando efeitos adversos do veneno na saúde humana (os efeitos teratogênicos de alguns larvicidas devem ser valorizados inclusive na investigação de microcefalia ou outras malformações congênitas); III) não utilizar o fumacê para controle dos mosquitos adultos, pois alguns químicos utilizados tem efeito potencialmente cancerígeno; IV) priorizar investimentos na redução de perdas de faturamento nos municípios mais afetados; V) aplicar o princípio da equidade na definição do rodízio, destinando mais água para as áreas mais carentes; VI) reorientação dos serviços de limpeza urbana e coleta de resíduos sólidos para áreas mais afetadas. E, como estratégias de longo prazo, propomos redesenhar o modelo de políticas urbanas, adotando o saneamento integrado à urbanização de áreas de maior risco.

Fonte:http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/politica/2015/12/24/interna_politica,618035/andre-monteiro-e-lia-giraldo-defendem-o-saneamento-contra-a-microcefal.shtml#.Vo6Qb-mMGkw.mailto

Pesquisa da ENSP associa compulsão alimentar a estresse no trabalho


Publicada em 
Os aspectos psicossociais do trabalho influenciam na prevalência da compulsão alimentar, e essa associação obtém chances diferenciadas entre magros e obesos. Esse resultado, apresentado pela aluna do mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP Ana Paula Bruno Pena Gralle, advém da análise transversal com dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) - uma pesquisa multicêntrica de coorte que acompanha funcionários públicos de seis instituições públicas das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, entre elas a Fiocruz, com o propósito de investigar a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares e o diabetes. Do total de 12.096 trabalhadores ativos, 11.951 compuseram a amostra analítica. A dissertação foi orientada pela pesquisadora Rosane Härter Griep.
Segundo Ana Paula, o estresse psicossocial no trabalho está associado à compulsão alimentar sob três aspectos: alta exigência, trabalho ativo e trabalho passivo. “A dimensão demandas psicossociais foi positivamente associada ao desfecho, enquanto a percepção de maior controle no trabalho foi inversamente associada à compulsão alimentar. Observou-se modificação da associação entre estresse no trabalho e compulsão alimentar pelo Índice de Massa Corporal’’, explicou.
Hábitos alimentares saudáveis podem contribuir para a redução de riscos de ocorrência de doenças crônicas, como hipertensão arterial, câncer e obesidade. De acordo com o ELSA, as doenças crônicas são responsáveis pelos maiores índices de mortalidade e morbidade no Brasil. Seu aumento substancial não só traz consequências negativas para a qualidade de vida da população adulta do país, como também responde pelos maiores gastos com assistência hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS).
No entanto, para o estudo, ainda existem importantes lacunas de conhecimento sobre a incidência das enfermidades crônicas e seus fatores de risco. Políticas de controle dessas doenças têm sido formuladas de acordo com informações de estudos oriundos de países desenvolvidos. Dentro dessa conjuntura, o ELSA surge como pesquisa essencial para uma gestão da saúde pública no Brasil.
Em cada centro integrante do estudo ELSA-Brasil, os sujeitos da pesquisa – com idade entre 35 e 74 anos – fazem exames e entrevistas nas quais são avaliados aspectos como condições de vida, diferenças sociais, relação com o trabalho, gênero e especificidades da dieta da população brasileira. As seis instituições que integram o ELSA são: Fundação Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro), Universidade de São Paulo (USP), e as universidades federais da Bahia (UFBA), Espírito Santo (Ufes), Minas Gerais (UFMG) e Rio Grande do Sul UFRGS).
Além de fomentar o desenvolvimento de novas investigações, o estudo será fundamental para a adequação de políticas públicas de saúde às necessidades nacionais. O ELSA torna-se possível pelo interesse do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência e Tecnologia em realizar pesquisas nacionais de grande porte sobre a saúde da população adulta no Brasil.
O ELSA também tem como meta a qualificação de profissionais em epidemiologia de doenças crônicas e o fortalecimento da pesquisa científica nesse campo temático. Ultrapassando os limites nacionais, também pretende tornar-se referência para populações de outros países com características próximas à brasileira.

Confira AQUI