O Portal Saúde Mato Grosso do Sul, divulgou em seu
site uma entrevista com o professor Gilberto Alfredo Pucca Jr, na qual atualiza
sobre a expansão da saúde bucal no Brasil. Para saber mais detalhes, segue abaixo a entrevista:
“Gilberto Alfredo Pucca Jr. possui
graduação em Odontologia, especialização em saúde pública, mestrado em
Epidemiologia do Envelhecimento pela Escola Paulista de Medicina-Universidade
Federal de São Paulo (1998) e doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade
de Brasília (UnB). Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de
Odontologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília
(UnB), atuando principalmente nos seguintes temas: oral health, dental health
services, public health, saúde pública.Atua, também, como coordenador Nacional
de Saúde Bucal - Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde.
1. Nos últimos anos a saúde Bucal teve
uma importante expansão no país com a implantação de mais de 23 mil equipes de
saúde bucal. São realizadas pesquisas de avaliação no país? Quais são as
mais importantes?
Sim, são realizadas pesquisas de
avaliação, aliás toda a indução do financiamento dos serviços de saúde bucal
estão alicerçados em processos avaliativos. Nesse sentido, o Ministério da
Saúde (MS) propõe várias iniciativas centradas na qualificação da AB e, entre
elas, destaca-se o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica (PMAQ-AB). No primeiro ciclo deste Programa foi realizado um
censo em todas as Equipes de Saúde Bucal da Atenção Básica. Um ponto importante
neste Programa é o componente financeiro que visa ampliar os investimentos
federais na Atenção Básica levando em conta o acesso e a qualidade da oferta
dos serviços prestados.
2. Como você avalia o desenvolvimento da pesquisa na área da atenção em saúde bucal no país? O DAB/SAS/MS tem incentivado o desenvolvimento de pesquisas na área?
Em odontologia o Brasil sempre foi um
forte produtor de pesquisa, o que é louvável, porém até 2003, o foco destas
pesquisas eram em produtos clínicos, o grande salto que estamos dando é com o
Brasil Sorridente o eixo passou a ser produção de conhecimento com impacto
epidemiológico e coletivo. No Brasil é grande o número de pesquisas realizadas
na área da atenção em saúde bucal e nos últimos anos é crescente o interesse no
campo de saúde bucal coletiva. O que precisamos melhorar é o acesso a
importantes revistas, pois a informação consultada pelas pessoas normalmente é
definida pela facilidade de acesso.
Em 10 anos de Brasil Sorridente o
Ministério da Saúde alocou mais de R$ 5 milhões em pesquisas parceria com o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ. A partir
de chamadas públicas foram selecionadas propostas apresentadas por
Universidades de todas as regiões do Brasil para apoio financeiro a projetos
que visem contribuir para a qualificação da Política Nacional de Saúde Bucal e
para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do País.
3. Como os resultados destas pesquisas
informam a formulação de políticas setoriais?
O Brasil Sorridente é um exemplo de que
pesquisas são importantes na formulação de políticas. Além de ser considerada
como a primeira Política Nacional de Saúde Bucal estruturada e coerente com os
princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), ela teve como embasamento
epidemiológico os resultados do Projeto SB Brasil 2003 – Condições da Saúde
Bucal da População Brasileira. Entre os pressupostos da Política Nacional de
Saúde Bucal (Brasil Sorridente) estão a utilização da epidemiologia e as
informações sobre o território subsidiando o planejamento, e a atuação na
Vigilância à Saúde, incorporando práticas contínuas de avaliação e
acompanhamento dos danos, riscos e determinantes do processo saúde-doença.
Neste sentido a Coordenação-Geral de Saúde Bucal, em parceria com o Comitê
Técnico Assessor (CTA) em Vigilância em Saúde Bucal do Ministério da Saúde,
realizou a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal – SBBrasil 2010 onde analisou a
situação da saúde bucal da população brasileira com o objetivo de proporcionar
ao SUS informações úteis ao planejamento de programas de prevenção e
tratamento, tanto em nível nacional quanto no âmbito estadual e municipal.
4. Qual a meta de crescimento e
investimento da área no Brasil?
A meta de crescimento é implantar
Equipes de Saúde Bucal em 100% das Equipes de Saúde da Família; Implantar mais
500 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e Laboratórios Regionais de
Prótese Dentária (LRPD) no Brasil e ampliar a fluoretação das águas de
abastecimento público no Brasil.
Nesses 10 anos, foram investidos mais
de 7 bilhões de reais no Brasil Sorridente. Somente no ano passado, foram 1
bilhão e 280 milhões de reais. Para se ter idéia da ampliação dos
investimentos em saúde bucal, em 2002, foram investidos cerca de 56 milhões na
área. É importante ressaltar que esses recursos estão garantindo os cuidados de
saúde bucal para milhões de brasileiras e brasileiros.
5. Em quase 12 anos a frente da
coordenação quais foram aos maiores desafios e as grandes conquistas para a
saúde bucal dos brasileiros?
Penso que um dos maiores desafios é de
fato colocar a saúde bucal como algo tangível a todos, universalizada e
integralizada. Pelo descaso histórico do poder público anterior a 2003, a saúde
bucal era acessível apenas a minoria da população, isso naturalizou, entre
outros aspectos, a falta de dentes. A saúde bucal do brasileiro antes do Brasil
Sorridente era um estatuto de classe, bocas eram diferentes de acordo com
as classes sociais, entre outras coisas, o que estamos fazendo é politizando os
nexos causais. O Programa resgatou milhões de sorrisos e devolveu autoestima a
também milhões de brasileiros. Apenas em uma década o Brasil Sorridente já
retirou do Brasil o título de País dos Desdentados e hoje, já é reconhecido
como o maior programa de saúde bucal público do mundo. Até a implantação do
Brasil Sorridente, o Brasil não dispunha de ações que articulassem o acesso
universal e a integralidade em saúde bucal no Sistema Único de Saúde. Ao longo
dos anos a Odontologia esteve à margem das políticas públicas de saúde e o
acesso dos brasileiros à saúde bucal era extremamente difícil e limitado. O
acesso as ações odontológicas eram quase que exclusivamente ofertadas pelo
setor privado, quem precisava só tinha acesso se pagasse.
Podemos considerar que a partir de
2004, ano que por determinação do ex-presidente Lula foi lançado o Brasil
Sorridente, temos uma Política Nacional de Saúde Bucal estruturada e coerente
com os princípios do Sistema Único de Saúde e que vem sendo construída a luz da
reforma sanitária brasileira.
A ampliação do acesso aos serviços de
saúde bucal a partir da última década com forte enfase às ações intersetoriais
com destaque a fluoretação das águas de abastecimento público, ao Plano Brasil
sem Miséria, Programa Territórios da Cidadania, Programa Saúde na Escola,
Programa Nacional de Ensino Técnico e Emprego e ao Plano Nacional dos Direitos
da Pessoa com Deficiência, colaboraram e continuam colaborando para que haja a
desmonopolização do cuidado em saúde bucal dos segmentos de renda mais alta, o
rompimento do ciclo intergeracional dos desdentados e principalmente o resgate
da cidadania da população brasileira.”
FONTE:
http://200.129.206.79/saude/posts/view/581?s=2#.VFeu6fnF_7w
Att, Equipe de Edição.