terça-feira, 26 de maio de 2015

Jeitinho Cubano

Várias políticas indutoras para formar profissionais para o SUS são realizadas no País, seja no âmbito da graduação ou da pós-graduação Lato sensu e Stricto sensu, com a finalidade de cumprir as determinações legais e das DCN para a Saúde. Na UFPE, os diferentes cursos de saúde procuram desenvolver seus projetos pedagógicos nessa perspectiva, além de apoiar diferentes iniciativas institucionais para fortalecer a integração ensino-serviço no SUS. 

A Residência Multiprofissional em Saúde da família da UFPE promoveu em 15/05/15 um encontro (Redes de saberes) intitulado "Partilha de experiências sobre o Sistema de Saúde Cubano", voltado para residentes, docentes, preceptores e convidados. Registramos a participação na residência de duas ex-alunas do curso de Odontologia da UFPE. E a presença no encontro de dois médicos cubanos que trabalham na unidade de saúde  da família de Casarão do Cordeiro, onde ocorre o desenvolvimento das atividades da residência.

Um aluno da nossa graduação de Odontologia da UFPE, Josevan Souza, participante do Estágio 2, acompanhou as discussões dessa rede de saberes e produziu para o blog um ensaio que registra suas impressões sobre o evento, e cujo conteúdo estamos disponibilizando abaixo:


Numa tarde corriqueira de sexta-feira, três professoras de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Pernambuco decidem relatar suas experiências a respeito de um recente curso que fizeram na Escola de Saúde de Cuba.  O evento aconteceu no auditório do curso de Fonoaudiologia da mesma Universidade, onde estavam os alunos da residência multidisciplinar em Saúde da Família da UFPE, alguns preceptores, outros professores membros da referida Residência, além de um Casal de Médicos Cubanos que atuam na USF de Casarão do Cordeiro do Distrito Sanitário IV da Secretaria de Saúde do Recife.


A aula começa de forma litúrgica, com slides, meia-luz, todos formando um círculo. Entretanto, o relato acaba se tornando uma gostosa conversa informal, na qual foi possível beber do conhecimento dos professores e se embriagar com a sapiência dos Médicos Cubanos.

Cuba apresenta o menor índice de mortalidade infantil do mundo, 4,2 mortos por 1000 nascidos vivos, paradoxalmente a renda per capita da Ilha é relativamente baixa [apesar do seu cálculo não seguir os parâmetros internacionais de medição], se comparada aos países com mortalidade parecidos com o de Cuba. Constata-se, pois, que é equivocada a ideia de pressuposição lógica entre a renda e a mortalidade infantil, máxima há muito defendida nas universidades e canteiros acadêmicos, sobretudo evidenciados em estudos validados.

Chamou também atenção o modo pelo qual os níveis de atenção em saúde são divididos, percebe-se que as Clínicas de especialidades são parte da Atenção Primária da Saúde, assim como, os postos de saúde, os abrigos, as casas de apoio as gestantes de alto-risco. A Médica cubana Sarit atribuiu o baixo nível de mortalidade ao modo no qual o sistema é pensado e praticado. “É impossível ocorrer algo errado na gestação de uma mulher Cubana, fazemos exames clínicos e visitas toda semana. Acompanhamos de perto tudo”, afirma a Médica.

É difícil fazer um distanciamento entre a realidade da saúde no Brasil e a realidade de Cuba, mesmo com diretrizes similares na área, estamos muito aquém da realidade de saúde cubana, apesar de sermos economicamente superiores. Para além, em termos de igualdade social e políticas de desenvolvimento social estamos muito longe de alcançar os indicadores sociais e de saúde cubano.
Ambiguamente nossa saúde é tratada como mercadoria, mesmo com a persistente corrente nas faculdades de saúde que tem a laboriosa missão de “humanizar humanos”, em Cuba a saúde é tratada como um bem da sociedade e um recurso para a vida. Cuidar da saúde em Cuba é algo natural, intrínseco. 

Parafraseando a excêntrica professora Wedna, talvez o Jeitinho cubano de fazer saúde seja tão natural quanto nosso jeitinho brasileiro de ser.  Depois da embriaguez de conhecimento, restou-me essa ressaca reflexiva.


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