terça-feira, 24 de maio de 2016

Histórias em Transição


O vestido ainda está guardado no armário. Uma recordação daquele 26 de outubro, quando Helena apareceu pela primeira vez para seus colegas de Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na turma do segundo semestre de 2013 não havia quem ignorasse os sinais de que ela estava a caminho. Os fios de cabelo vinham crescendo. As unhas ganharam esmalte colorido. As roupas masculinas foram trocadas por um visual andrógino. Roberto e outros amigos próximos sabiam que a chegada de Helena era iminente, mas ninguém mais do que ela própria esperava o dia de se libertar de um gênero ao qual nunca sentiu pertencer. “Eu sempre achei que não me encaixava no meu corpo, mas não é fácil reconhecer que se é uma pessoa trans”.
Na cidade de Várzea Paulista, na região de Jundiaí (SP), transgênero era uma palavra totalmente desconhecida 22 anos atrás. Hoje, não se pode afirmar que lá e em grande parte do país se entenda que algumas pessoas não se encaixam no gênero imposto por seus corpos — masculino ou feminino — e lutam para serem reconhecidas social e legalmente de acordo com outro gênero. “Desde criança eu desejei ser menina e isso foi se estendendo ao longo da minha vida até a adolescência”, descreve Helena, unhas vermelhas sobre o vestido de renda preto.
“Vivi uma angústia terrível quando a puberdade chegou. Era doloroso ver as mudanças acontecendo no corpo das minhas amigas de escola enquanto minha voz engrossava, os seios não cresciam, me enchia de pelos. Eu sonhava todas as noites me tornar uma garota, que minha genitália desaparecesse e que eu fosse realmente feliz. Mas como nunca pude verbalizar isso, o tempo passou e esse segredo ficou guardado em mim. Naquela época eu mal sabia qual a diferença entre um transgênero e um gay”.
A doutora em Sociologia Berenice Alves de Melo Bento, autora do verbete Transexualidade no Dicionário Feminino da Infâmia (Editora Fiocruz), define a palavra como uma ”experiência de trânsito entre os gêneros que demonstra que não somos predestinados a cumprir os desejos de nossas estruturas corpóreas”. Ela ressalta que, assim como aconteceu com Helena, esse processo é marcado por medos. “As dúvidas ‘Por que eu não gosto dessas roupas? Por que odeio tudo que é de menino? Por que tenho esse corpo?’ levam os sujeitos que vivem em conflito com as normas de gênero a localizar em si a explicação para suas dores”.
O conflito fez com que a estudante de Medicina acreditasse ser um homem gay, até finalmente perceber em 2013 que não se encaixava naquele universo. “Um vazio começava a se instalar em mim. A heterossexualização machista do mundo homossexual me impedia de aparentar minha feminilidade”. O vazio foi ficando cada vez maior. Helena se sentia uma fraude. Então, procurou amigos, depois um psicólogo da própria faculdade em que estuda e ainda materiais sobre pessoas transgênero. “Muitas das histórias contadas eram perfeitamente compatíveis com a minha. Eu seria transgênero? Não podia ser, eu não queria admitir!”.
Na fase mais dolorosa do processo de transição, em 2015, a universitária sofreu com crise de pânico e depressão. Na saída de uma aula prática de microbiologia, buscando amparo em uma amiga, chegou ao ponto mais frágil: “Thaís, eu tenho medo de sucumbir”. Mas daí ganhou força para abrir caminho até ser reconhecida e chamada de Helena. Contou com o auxílio de uma psiquiatra, também da UFRJ. Começou a hormonização, ou terapia com hormônios, para destacar os traços femininos. Trocou todo o guarda-roupa. 
Graças à aprovação pela universidade de uma norma para que transgêneros, travestis e transexuais utilizem em registros acadêmicos seus nomes sociais, ela é Helena também no diário de aula e no sistema de gestão acadêmica. Os outros documentos e as outras mudanças visuais ficam para depois. “Quero o meu corpo feminino, mas não vou fazer loucuras. Tenho consciência da minha origem. Nunca serei uma mulher cisgênero [pessoa cujo gênero é o mesmo que aquele designado a ela no nascimento], serei sempre uma mulher trans”. Quem tem mais dificuldade de chamar Helena pelo nome que escolheu é sua mãe. Não por preconceito, mas por força do hábito. “Eu disse a ela: me chama de ‘amor’. Porque amor não tem gênero”.
Mesmo contando com o respeito da família e dos colegas da faculdade, a estudante não se engana de que esta seja a realidade de todos os transgêneros. “Sou uma privilegiada em uma sociedade hipócrita”, conclui, ciente da discriminação a qual está sujeita a grande maioria das pessoas como ela. Hoje, está protegida por uma universidade de ponta. Amanhã, por um diploma respeitado. Sobre os meses como Helena, ela já avalia que “ser garota é muito legal”. Mas instantaneamente corrige a própria avaliação: “Muito legal é ser quem você sempre quis ser”.

Barbara Aires: Engrenagem de preconceito



“Uma transexual pode trabalhar como? a) cabeleireira; b) faxineira; c) prostituta. Se você acha que essas são as únicas opções, tá na hora de falar sobre transfobia”. As frases no cartaz alertam sobre as barreiras que afastam grande parte das pessoas trans do mercado formal de trabalho, logo das perspectivas de melhorar de vida. Quando os estereótipos se cristalizam, fugir deles torna-se uma missão quase impossível. “Não respeitar o nome social é uma das maneiras de discriminar, mas a maior delas é negar emprego”, afirma categoricamente a ativista Barbara Aires.
Seu envolvimento com a militância está diretamente ligado ao preconceito por parte dos empregadores. Entre 2002, ano em que passou a se identificar como Barbara, e 2008, foi nas ruas e nos sites de prostituição que buscou seu sustento. Então percebeu que não era uma exceção: a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) estima que 90% de suas representadas sejam prostitutas. “Nem todas as trans estão na esquina, fora da escola ou da faculdade porque querem. Há um conjunto de fatores sociais que nos levam a ocupar esse lugar que a sociedade destinou a nós”.
O fio da memória de discriminação leva Barbara à infância: “Eu era o viadinho da rua, sofria muita perseguição e violência”. A rejeição também ficava evidente na família e na escola, gerando o que ela mesma classifica de “engrenagem do preconceito”, que empurra mulheres como ela para as calçadas. O preconceito e a rejeição a transexuais, travestis e todos aqueles que expressam o gênero de maneira discordante tem nome: transfobia. “Sair na rua como uma mulher trans já é um ato heroico”, observa a ativista. “Te lançam olhares, te apontam, riem de você, é muita retaliação e achincalhamento público”.
O Brasil é o país onde mais se assassinam pessoas trans no mundo, segundo levantamento da organização Transgender Europe. Das 2.016 mortes registradas em 65 países entre 2008 e 2015, 802 ocorreram aqui. México (229) e Estados Unidos (132) formam o funesto pódio de campeões de transfobia. Outra pesquisa, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à Organização dos Estados Americanos, informa que, no caso de mulheres trans, são sobretudo as mais jovens as vítimas mais comuns.
De acordo com dados coletados em 2013 e 2014, 80% das mulheres trans assassinadas tinham 35 anos de idade ou menos. “A violência contra as pessoas trans, em particular as mulheres, é o resultado de uma combinação de fatores: a exclusão, a discriminação e a violência na família, na escola e na sociedade em geral; a falta de reconhecimento de sua identidade de gênero; envolvimento em ocupações que as colocam em grupos de risco mais elevado de violência; e a alta criminalização”, identifica o relatório.
Como consequência do preconceito, complementa o texto, as mulheres trans e outras pessoas que distoam das regras convencionais de gênero tendem, com frequência, a ser visadas pelos policiais e pelos agentes de segurança pública, sob a presunção de que são criminosas; e são, com frequência, discriminadas no sistema de justiça, que tende a sujeitar as mulheres trans a uma aplicação mais rigorosa da lei e a penas mais duras.
A CIDH ainda calcula que a expectativa de vida das mulheres trans nas Américas esteja entre 30 e 35 anos de idade, quando a média da população na região supera os 70 anos. Não à toa o medo da violência toma conta das esquinas. Em 2008, Barbara teve estafa emocional e física decorrente da prostituição. Tentou (e ainda tenta) abandonar a antiga profissão. Mas, sem emprego fixo, atende ocasionalmente um ou outro cliente que liga, para conseguir pagar as contas do apartamento em que mora com a mãe, no Centro do Rio. Enquanto isso, continua buscando um lugar no mercado de trabalho.
No ano passado, foi uma das alunas do PreparaNem, curso preparatório para o Enem dedicado a travestis, pessoas trans e outras pessoas em situação de vulnerabilidade social e preconceito de gênero. Passou no vestibular de Jornalismo e está cursando seu primeiro semestre em uma faculdade particular que lhe ofereceu bolsa de estudos. Quer ser produtora de TV, atividade que exerceu por dois anos, no programa Amor & Sexo, da Globo. Mas não deixa de sonhar em ser a primeira repórter de telejornal trans. “É uma maneira de mudar a forma como a mídia nos trata. As pessoas trans só aparecem quando são presas ou estão envolvidas em briga”.

Hannah Mendes: Não há vagas


Hanna Mendes está procurando emprego. Quando dizem que não há vagas para ela, Hanna fica na dúvida se é porque seu nome na identidade é masculino ou se realmente não há vagas. “Não posso afirmar que não consigo um trabalho porque sou trans. As pessoas falam que o país está em crise, né, que está difícil para todo mundo”. Ela chegou a cursar Farmácia em uma universidade particular do Rio, mas o custo do processo transexualizador a afastou da sonhada graduação. “Tive que abrir mão de um sonho para viver outro”.
O SUS, na teoria, financia o processo transexualizador. Na prática, apenas cinco centro hospitalares em todo o país oferecem o acompanhamento, que normalmente abrange a prescrição de hormônios e pode incluir cirurgia de redesignação de sexo. As filas são enormes. Segundo pessoas que procuraram o serviço ouvidas pela Radis, a espera por uma cirurgia de adequação de sexo no Hospital Pedro Ernesto, único que opera no Rio de Janeiro, é de no mínimo oito anos. Mas quem procurar atendimento hoje, de acordo com essas fontes, ouvirá — de novo — que não há vagas.
Assim, a maior parte das pessoas trans usa hormônios sem prescrição ou acompanhamento médico. Também é comum que mudanças corporais sejam realizadas em ambientes inapropriados e por pessoas não habilitadas — como no caso das “bombadeiras”, que aplicam silicone industrial para aumentar seios e nádegas. Cirurgias de adequação de sexo são oferecidas no mercado a partir de 18 mil reais — podendo chegar a 40 mil. 
Hanna encontrou uma oportunidade de emprego quando participou do projeto Damas, da prefeitura do Rio, voltado para a reinserção social e profissional de travestis e transexuais. Durante seis meses, ela e outras alunas se encontraram duas vezes por semana para oficinas de trabalho, orientação vocacional e aulas de português, inglês e informática. Ao final, estagiou na Clínica da Família Dona Zica, na Mangueira: auxiliava na farmácia, fazia acolhimento, cuidava das atividades externas. “Foi boa a recepção. As pessoas que trabalharam comigo conseguiram ver um lado diferente de uma pessoa trans”.

Cristiano Patrick Lima: Saindo da invisibilidade



Namorado de Barbara há um ano, o jornalista Cristiano Patrick Lima passou três anos da graduação sem se revelar um homem trans para seus colegas, dada sua “passabilidade cis”. Passabilidade é o termo usado quando se quer dizer que uma pessoa trans não é vista pelas demais como alguém com dissidência do sexo de nascimento. O fato de ter conseguido retificar seus documentos de identidade ajudou a evitar que a questão fosse trazida à tona.
Mas, diante da falta de representatividade da agenda dos homens trans, Patrick também virou um ativista. “Eu saí da posição confortável de pessoa cis para me expor como pessoa trans dada a invisibilidade dos homens transgêneros”, explica ele, que escreve sobre masculinidade na página negrosblogueiros.com.br, juntamente com mais dois homens trans e três homens cis.
Para mudar seu nome nos documentos oficiais, o jornalista precisou de um laudo psiquiátrico atestando que tem um transtorno de identidade de gênero. “Hoje, o laudo não é imprescindível, mas sem ele um juiz pode não autorizar a mudança a partir de sua posição pessoal”.
Os pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Henrique Caetano Nardi e Paula Sandrine Machado, autores do verbete Transfobia do Dicionário Feminino da Infâmia, explicam que, diferentemente da homossexualidade, que foi suprimida do campo das patologias (em 1973, pela Associação Psiquiátrica Americana e, em 1991, pela Organização Mundial da Saúde), o transtorno de identidade de gênero ainda permanece como um diagnóstico que atribui estatuto de perturbação psíquica à diversidade que não obedece à coerência culturalmente atribuída entre um corpo “natural” e uma expressão de gênero “social”.
“Aqui encontra-se um paradoxo ligado à materialidade das formas de reconhecimento das identidades sociais pelo Estado: para que este assuma os custos das intervenções médicas — cirurgias de transgenitalização, de modificação corporal e hormonioterapia, entre outras —, impõe-se que se mantenha a condição de patologia para a transexualidade, a qual é rejeitada pelos movimentos LGBT por seu caráter estigmatizante”, apontam. Para Patrick, foi um processo “sacrificante e doloroso”.

Laylla Monteiro, Kakau Ferreira, Biancka Fernandes: A dor da gente



Não ter um documento contendo o nome social e uma foto 3x4 com a aparência atual também pode ser bem doloroso. “Essa foto não é sua”, costuma falar o porteiro, com um sorriso malandro no rosto. “Você é menino ou menina?”, Kakau Ferreira cita outra frase comum de ser ouvida. Por isso, quando o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) começou a planejar o maior estudo brasileiro sobre a saúde da população trans, o Transcender, logo identificou que o acolhimento das participantes deveria começar já no portão de entrada. Kakau, Laylla Monteiro e Biancka Fernandes foram contratadas como assistentes, para trazer o olhar das mulheres trans para o ambiente de pesquisa, aproximar a comunidade e cuidar da recepção.
O contato do INI com a população trans é antigo, via atendimento de pessoas soropositivas para HIV, que teve início em 1986. Mas a aproximação vem se aprofundando, por exemplo com o Transcrições, projeto de arte relacional que por meio de oficinas de produção artística e visita a espaços culturais da cidade discute questões caras às integrantes. “É uma maneira de tirar a centralidade das doenças e tentar romper o isolamento ao qual a população trans está sujeita”, explica a chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e HIV/aids, Beatriz Grinsztejn.
O isolamento se aplica inclusive à agenda de pesquisa internacional, como afirma a chefe substituta do Laboratório, Valdileia Veloso: “A população trans não está representada nas pesquisas. Mesmo estudos muito importantes para a comunidade, como o de profilaxia pré-exposição ao HIV, têm participação baixíssima de pessoas trans”. O Transcender, estudo epidemiológico de mulheres trans e travestis da região metropolitana do Rio, é um dos projetos do INI para gerar evidências sobre a saúde desse grupo. Os dados consolidados serão divulgados este mês.
Foram ouvidas 345 “meninas”, como a Coordenadora do Transcender Emília Jalil e outras pesquisadoras chamam carinhosamente, sobre questões como acesso à saúde, uso de hormônios, comportamento sexual, transfobia e experiências de violência. O perfil encontrado foi de maioria parda, com idade média de 30 anos, 90% com menos de 12 anos de escolaridade (ou seja, não chegaram a completar o Ensino Médio). Mais de 90% usaram hormônio, a grande maioria sem orientação médica; 48% tiveram injetada alguma substância para acentuar a aparência feminina, como silicone ou metacrilato, quase todas fora de clínicas, por “bombadeiras”. Cerca de 60% classificaram sua saúde como “boa” ou “muito boa”, mas 40% não tinham se consultado com um profissional nos últimos 6 anos.
“A população trans carece de acesso a serviços básicos”, comenta Beatriz. Biancka explica por quê: “Temos um acúmulo de experiências ruins de preconceito. Quando uma de nós está doente, tem medo de procurar atendimento de saúde e ser novamente discriminada. A dor da gente é muito grande”. Beatriz endossa a fala: “Basicamente, elas não procuram os serviços por discriminação e falta de treinamento dos profissionais de saúde para lidar com as pessoas trans”.
Uma exceção à regra é o próprio INI, que oferece cuidados com endocrinologista, infectologista e cardiologista. Em breve, os serviços serão expandidos, graças às verbas de uma emenda parlamentar do deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), com saúde mental e fornecimento de hormônios — que não estão na lista de medicamentos essenciais do SUS. “A Fiocruz acaba sendo um refúgio no Rio, porque elas sabem que serão tratadas com respeito, pelo nome social e no feminino”, observa Laylla.
Médica ginecologista, Emília avalia que o curso de Medicina não oferece formação adequada para o atendimento a pessoas trans: “No curso não há sequer menção a diversidade de gênero ou de orientação sexual”. Maurício Petroli, coordenador de Políticas de Saúde da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina, reforça a necessidade de um currículo que contemple as questões em saúde de modo amplo, sobretudo no que toca às saúdes negligenciadas, como a das pessoas trans. “A mudança na formação é essencial para que a gente consiga não só humanizar a prática médica, mas passá-la a limpo, reescrevê-la, redesenhar a relação médico-paciente”.
Pode ser diferente. Em Florianópolis, no posto de saúde da Lagoa da Conceição, pessoas trans encontram atendimento médico humanizado toda segunda-feira, até as 22h, desde agosto de 2015. Durante um congresso sul-americano de Medicina de Família em Montevidéu, capital do Uruguai, o médico de família e comunidade Thiago Campos conheceu a experiência do ambulatório para transexuais. Acabou estagiando por lá e, na volta, sugeriu a ideia à prefeitura — juntamente com os colegas Thiago Cherem e Anelise Nunes.
“O que a gente vê no panorama mundial é expectativa de vida baixa, índice alto de violência e suicídio e falta de oferta de serviços de saúde em geral. As pessoas trans não querem só tratamento hormonal. Elas ficam gripadas, têm unha encravada, mas por serem trans ficam segregadas do sistema dadas as dificuldades de acesso, a violência no acolhimento”, comenta Thiago. O posto já funcionava e continua funcionando para toda a comunidade do entorno. Mas a sala de espera ficou mais diversa. “Segunda-feira à noite você encontra gente de tudo quanto é tipo”, conta o médico de família.
A equipe do Ambulatório Trans é formada por médicos de família, residentes de Medicina de Família, psiquiatra, enfermeiros e técnicos de enfermagem. As pacientes aparecem com diabetes, hipertensão, hipotireoidismo, HIV e aids, entre outras condições de saúde que se vê o tempo todo em outras pessoas, como frisa Thiago. Já na primeira consulta elas recebem o Cartão Nacional de Saúde com o nome social, o que ajuda a criar o vínculo. Mas o que o médico vislumbra é que, um dia, o ambulatório não seja mais necessário. “A gente acha que tem que ter fim”, diz. “O horizonte é continuar capacitando médicos de família para que atendam essas pacientes nos seus territórios, não em espaços segregados. É garantir os mesmos direitos às pessoas, sejam elas brancas, negras, gays, trans ou cis”. 
Autor: 
 Bruno Dominguez

fonte: http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/164/reportagens/historias-em-transicao
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